Como o Brasil poderia reconstruir sua diplomacia climática sob um novo governo Lula? A Diretora Executiva da Plataforma CIPÓ, Adriana Abdenur, foi entrevistada pelo jornal Taggespiegel, da Alemanha. Leia a tradução da entrevista (originalmente em alemão):
Diplomacia climática pós-Bolsonaro
Unir clima e política – é isso que o think tank Plataforma CIPÓ quer fazer no Brasil. Não é uma tarefa fácil quando o atual presidente nega a crise climática. Adriana Abdenur, co-fundadora da CIPÓ, não desiste, em especial logo antes das eleições.
Desmatamento, negacionismo climático e um presidente abertamente machista — o Brasil é atualmente um lugar difícil para uma mulher lidar com a crise climática do ponto de vista científico. Adriana Abdenur, fundadora e diretora-executiva do think tank Plataforma CIPÓ, persiste. “Atualmente, estamos sendo tratados como arqui-inimigos do governo”, diz ela. “Não como uma organização tentando fazer sugestões construtivas.”
Sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, o desmatamento no Brasil atingiu níveis recordes nos últimos anos. Mas não é só isso: “Os mecanismos de proteção ambiental e climática foram sucateados”, diz Abdenur. Por exemplo, os fundos da organização estadual de proteção ambiental Ibama e da agência de proteção indígena Funai foram severamente cortados, e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles era um amigo aberto do lobby agrícola.
Uma abordagem interseccional contra o desmatamento
Nesse ambiente, Abdenur tenta elaborar recomendações políticas para a política climática através da Plataforma CIPÓ. Há alguns anos, em colaboração com Maiara Folly, Abdenur — hoje com 47 anos — tinha a sensação de que o clima e a política internacional no Brasil ainda não eram pensados juntos o suficiente. “Organizações da sociedade civil e instituições políticas raramente trabalharam juntas nesse tema”, diz ela.
É por isso que eles rapidamente fundaram seu próprio think tank. Até hoje, as mulheres lideram a Plataforma CIPÓ, o que já é notável por si só. “Os espaços políticos, principalmente na área de relações internacionais, ainda são muito brancos e masculinos no Brasil”, diz o sociólogo. “Para nós, é fundamental que também ocupemos esses espaços.”
O fato de o think tank ser liderado por mulheres deve ser mais do que um gesto simbólico. Uma perspectiva feminista também se reflete no conteúdo da organização – a Plataforma CIPÓ tenta pensar o clima e a política a partir de uma perspectiva interseccional. Além do gênero, eles tentam incluir a dimensão racial e as diferenças geográficas em suas análises. “Somos mais sensíveis às desigualdades e mecanismos de exclusão”, diz Abdenur, descrevendo a natureza especial de seu trabalho.
Pouco antes das eleições presidenciais do próximo domingo, o clima no país é particularmente tenso — e Abdenur e suas colegas andam particularmente ocupadas. Atualmente, estão trabalhando em duas iniciativas diferentes. Um relatório do think tank mostra quais candidatos apoiaram projetos de leis ambientais e prejudiciais ao clima. “Chamamos os perpetradores pelos nomes”, diz Abdenur. Ao fazer isso, ela quer oferecer aos eleitores um insumo importante para a tomada de decisão.
Política climática pós-Bolsonaro
Além disso, o think tank elabora recomendações sobre como poderia ser a política ambiental e climática internacional após a possível derrota de Bolsonaro e sob um governo renovado de Luiz Inácio Lula da Silva, a fim de reverter os danos dos últimos anos o mais rápido possível. “A prioridade imediata deve ser reverter a tendência de aumento do desmatamento”, diz Abdenur.
Para isso, teriam que ser disponibilizados novamente fundos para monitoramento e registro do desmatamento, e as estruturas enfraquecidas teriam que ser fortalecidas novamente. “Temos que enviar um sinal forte aos nossos parceiros internacionais”, diz a socióloga. O Brasil perdeu muita credibilidade nos últimos anos. Agora, ela terá que ser reconstruída pelo país, mostrando que a cooperação climática construtiva é novamente possível. Ela acha que um governo de Lula poderia ter sucesso rápido em reviver antigas colaborações.
Lula lidera em todas as pesquisas para a eleição presidencial, tendo uma vantagem clara em todas. Como os brasileiros decidem sobre as eleições de domingo está em aberto. Adriana Abdenur está otimista, mas a possibilidade do segundo mandato de Bolsonaro ainda a preocupa. “Não temos medo de nada, mas os danos seriam enormes — não só para o clima, mas também para a nossa democracia”, diz a especialista.
Lisa Kuner
Quem salva o clima? A política ou o indivíduo?
A política, como construção coletiva.
Qual voo você nunca deixaria de pegar?
Para casa, para rever meus filhos.
Quem no mundo da energia e do clima a impressiona?
A Deputada Federal Joênia Wapichana. Ela é a primeira mulher indígena a ser eleita deputada federal e é uma incansável militante pela defesa da Amazônia e dos povos da região.
Que ideia dá um novo impulso à transição energética?
Para ser franca: nos países em desenvolvimento, a transição tem que gerar emprego e renda.