Hoje, 12 de dezembro de 2025, o Acordo de Paris completa dez anos, marcando uma década de transformações na governança climática global. Desde sua adoção durante a COP21, em 2015, o tratado se consolidou como um dos maiores acordos multilaterais dedicados ao enfrentamento da crise climática, reunindo 195 países em torno de um conjunto comum de objetivos.
Ele estabeleceu as bases para limitar o aquecimento global a “bem abaixo de 2°C”, com esforços para 1,5°C, e inaugurou uma nova lógica de cooperação internacional, na qual cada país apresenta e revisa periodicamente seus compromissos climáticos.
Uma das inovações centrais introduzidas pelo Acordo foi a criação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Pela primeira vez, todos os países passaram a estruturar metas formais de redução de emissões e adaptação, vinculadas a planejamento interno, políticas públicas e estratégias de longo prazo.
O mecanismo de revisão obrigatória a cada cinco anos também estabeleceu um ciclo de ambição contínua, pressionando governos a atualizar suas metas e garantindo que a agenda climática permanecesse em movimento. Esse arcabouço institucional ajudou a reduzir projeções de aquecimento que, antes de 2015, apontavam para um cenário extremamente crítico de até 4–5°C até o fim do século.
O financiamento climático também ganhou maior institucionalidade. A meta de mobilizar US$100 bilhões anuais, o Novo Objetivo Quantificado Coletivo de Financiamento Climático (NCQG), para apoiar países em desenvolvimento se tornou um dos pilares do debate global, mesmo com lacunas persistentes.
A criação de novas ferramentas financeiras e o fortalecimento dos debates sobre adaptação, perdas e danos e justiça climática mostram que o Acordo ampliou a discussão, reconhecendo as múltiplas dimensões da crise climática e, consequentemente, as múltiplas populações afetadas por ela.
No Brasil, a adesão ao Acordo de Paris reorganizou prioridades e ampliou o papel do clima na política externa. O país apresentou sucessivas atualizações de sua NDC, incluindo a meta anunciada em novembro de 2024, que prevê a redução líquida entre 59% e 67% das emissões até 2035. A proteção de florestas, a recuperação de políticas de preservação e a transição para uma economia de baixo carbono tornaram-se elementos centrais para a contribuição brasileira ao esforço global.
O ano de 2025 apresentou-se como promissor e, ao mesmo tempo, desafiador. A COP30, realizada pela primeira vez na Amazônia brasileira, marcou um avanço importante com a aprovação do Pacote de Belém, que inclui 29 decisões significativas sobre temas como mecanismos de aceleração de implementação, transição justa, financiamento para adaptação, gênero e clima e tecnologia.
No mesmo ano, os Estados Unidos, um dos maiores emissores de carbono, deixou formalmente o Acordo de Paris após a posse do segundo mandato do presidente Donald Trump, juntando-se a Iêmen, Irã e Líbia, os únicos países fora do tratado desde sua criação.
O mundo continua distante do caminho necessário para limitar o aquecimento a 1,5°C, e o avanço de eventos extremos reforça que a implementação, e não apenas a definição de metas, será um dos grandes desafios da próxima década. Isso inclui fortalecer capacidades institucionais, garantir transparência, ampliar o financiamento climático e assegurar que a transição energética ocorra de forma justa, sobretudo nos países mais vulneráveis.
Para a Plataforma CIPÓ, que atua fortalecendo a ação climática, a cooperação internacional e o desenvolvimento sustentável, os dez anos do Acordo de Paris representam tanto um marco quanto um ponto de inflexão. A arquitetura criada em 2015 permanece relevante, contudo, depende de cooperação internacional efetiva, ambição crescente e compromisso das Partes para gerar resultados concretos. O que está em jogo nos próximos anos não é apenas o futuro do tratado, mas a capacidade coletiva de evitar o crescimento gradativo da crise climática e suas consequências.




