À medida que as pressões de eventos climáticos devastam a Amazônia brasileira, as populações tradicionais são forçadas a se afastar dos lugares que definem suas identidades. Esta não é apenas uma catástrofe humana: a perda desses preciosos defensores ambientais também geram problemas para a floresta tropical.
Em artigo para o Climate Diplomacy, Maiara Folly, Diretora de Programas da CIPÓ, e Erika Pires Ramos, Fundadora da Rede Sul-Americana para as Migrações Ambientais (RESAMA), fazem um alerta de que, embora haja uma escassez de estudos e dados sobre o nexo clima e migração na Amazônia, há evidências suficientes para afirmar que eventos climáticos na região, como secas prolongadas e períodos de chuvas intensas, já estão provocando a erosão e a degradação do solo, dificultando o acesso à água potável, afetando a pesca e a agricultura, e exacerbando a competição sobre recursos naturais.
Essa combinação de fatores perturba gravemente os meios de subsistência, a saúde e a segurança alimentar dos habitantes da floresta amazônica, especialmente os povos indígenas, ribeirinhos, pescadores e outras comunidades tradicionais. Para grupos indígenas, cujas identidades dependem do acesso coletivo à terra e às águas tradicionalmente ocupadas por seus ancestrais, a migração como estratégia de adaptação ao clima é o último recurso a ser empregado. No entanto, muitas vezes torna-se a única estratégia de sobrevivência viável devido a uma combinação de riscos climáticos e de segurança.
Para agir na prevenção de migrações induzidas pelo clima, as autoras do artigo destacam a importância de se investir em estudos que investiguem as causas, as tendências e as dinâmicas da migração induzida pelo clima na região amazônica. Atores externos e a comunidade internacional poderiam, por exemplo, financiar projetos de pesquisa locais para obter dados mais confiáveis e desagregados sobre os grupos de pessoas mais afetados pela migração climática e as políticas que poderiam mais adequadamente responder às suas necessidades.
Além disso, Maiara Folly e Erika Pires Ramos também destacam a importância de que tomadores de decisões não vejam a migração e a realocação planejada como as únicas estratégias de adaptação climática disponíveis; ao contrário, eles devem considerar adotar outras mediadas de mitigação, adaptação e resiliência para permitir que aqueles que consideram a migração como um último recurso possam permanecer em seus locais de origem.