Diagnóstico inédito revela avanços importantes e aponta oportunidades para acelerar a implementação prática dos compromissos firmados entre os países amazônicos
Por Marília Closs e Nycolas Candido
A três meses da COP30 — a primeira conferência do clima sediada na Amazônia —, um diagnóstico inédito da Plataforma CIPÓ revela que a implementação da Declaração de Belém começa a ganhar corpo. Desde a assinatura, em agosto de 2023, cerca de 1.700 ações foram registradas para dar vida aos 113 parágrafos do acordo. Embora ainda haja muito por fazer, iniciativas como o manejo integrado do fogo e operações conjuntas contra crimes ambientais já mostram resultados concretos.
O estudo, acompanhado de um painel visual, foi lançado em 19 de agosto, durante os Diálogos Amazônicos, etapa presencial da Cúpula da Amazônia, em Bogotá. Assinada por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, a declaração é considerada um marco na cooperação regional, reunindo compromissos que vão da ciência e inovação à proteção das florestas.
A COP30 será vitrine — e prova de fogo — para mostrar ao mundo que a região pode transformar compromissos em ação
O diagnóstico da CIPÓ mostra que cerca de 70% das iniciativas previstas ainda estão em fase preparatória — criação de grupos de trabalho, reuniões técnicas, conferências e elaboração de planos. Esses passos são essenciais para estabelecer bases técnicas, institucionais e financeiras para a ação. Já 4% formalizaram compromissos, por meio de novas legislações, acordos de cooperação ou criação de órgãos, enquanto 12% chegaram à implementação prática, com projetos e programas efetivamente em operação.
Entre os casos em andamento destacam-se o plano de trabalho da Rede Integrada de Manejo do Fogo; o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, voltado a operações conjuntas contra crimes ambientais; e a reformulação do ORA (Observatório Regional da Amazônia) e do Mecanismo dos Povos Indígenas, ambos no âmbito da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica).
A OTCA, aliás, lidera cerca de 75% das ações registradas, articulando esforços que vão da segurança alimentar à ciência, passando por direitos humanos e proteção florestal. Sua atuação tem sido decisiva para manter diferentes agendas avançando de forma coordenada.
O panorama mostra um instrumento político já capaz de produzir resultados concretos e criar um caminho compartilhado para o futuro do maior bioma brasileiro. O desafio agora é acelerar a transição das medidas preparatórias para fases de execução e geração de impacto: multiplicar exemplos de leis aplicadas, operações conjuntas realizadas e benefícios tangíveis para a biodiversidade e as comunidades locais.
A COP30 será vitrine — e prova de fogo — para mostrar ao mundo que a região pode transformar compromissos em ação. Para isso, a visibilidade internacional precisa ser acompanhada de demonstrações inequívocas de que a cooperação amazônica é não apenas possível, mas eficaz.
A Declaração de Belém elevou a cooperação regional a um novo patamar. Agora, é hora de consolidar esse avanço, garantindo que as promessas se traduzam em resultados duradouros para a floresta e seus povos. O relógio climático não espera — e a Amazônia tampouco.